viernes, 1 de febrero de 2008

Vou até o fim do mundo e já volto


Voces conhecem uma cidade chamada Campininha das Ariranhas?
O prefeito chama Mané Dentista (sem sobrenome)
Tem 4 vereadores:Seu Chico, Ditão da Selaria, Seu Osvaldo do Bar do Ponto (a rodoviária deles)E o Nestor do açougue
As placas de Benvindo e Volte Sempre estão no mesmo lugar, só que uma de cada lado da única estrada de acesso ao lugar. Ela se transforma na única rua ( rua Everaldo do Engenho) que termina no fim da cidade.
Quando chove vira um barro só e nem trator trafega.
O onibus (uma jardineira ford 1958 com 22 lugares, mas nunca enche) não sai.
Enfim ninguém entra e nada sai. Fiquei ilhado lá por 4 dias.
Eles já têm televisão, mas só pega a Globo e o SBT.Contei 3 automóveis e 5 picups.Quer mais fim de mundo do que esse?
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Cidadezinha Qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eita vida besta, meu Deus..
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Carlos Drumond de Andrade

1 comentario:

ibelgman dijo...

CAMPO DE FLORES

Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus - ou foi talvez o Diabo - deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.

Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.

Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.

Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram de mim,
o sumo se espremeu para fazer um vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.

E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.

Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.

Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
… visão extasiada.

Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.

Carlos Drummond

Oasis